O Seminário da Boa Nova de Valadares acolheu o primeiro seminário de reflexão com o tema “A Boa Nova nos Caminhos da Humanidade – Agenda para o Século XXI”, entre os dias 17 e 19 de Abril, que teve como principal objectivo reflectir sobre a realidade do laicado missionário e a sua acção na humanidade. Este evento, organizado pelos Leigos Boa Nova, teve a colaboração do Bernardino Silva, voluntário na área da emergência e do D. António Couto, bispo auxiliar de Braga.
A abertura foi protagonizada pelo grupo cabo-verdiano de Batuku, Flor di Terra, que trouxe a todo o auditório a beleza da música e da dança da Cidade Velha da Ilha de Santiago. Constituído essencialmente por estudantes, este grupo faz parte da Associação de Cabo-Verdianos do Porto e desta forma cumpre a missão de dar a conhecer a sua cultura. Foi uma noite de intercâmbio cultural e de conhecimento mútuo. A boa nova começa assim: no encontro.
A manhã de sábado foi dedicada ao tema da cooperação através da lente do estado português. O Dr. Jorge Faria, do Ministério dos Negócios Estrangeiros, esclareceu a plateia sobre as prioridades do governo para este sector, os objectivos a atingir, e a legislação relativa ao estatuto do voluntário cooperante. A educação e, especificamente, o ensino da língua portuguesa são a grande prioridade para os países de expressão portuguesa, uma vez que se trata da chave-mestre de uma ligação cultural que se quer longa e frutífera. Salientou, também, a importância dos missionários e a credibilidade dos seus projectos de beneficência em prol das comunidades locais onde se inserem. A boa nova constrói-se assim: em parceria.
A Jornalista da TVI, Conceição Queiroz, nascida na Ilha de Moçambique, deu o seu testemunho na tarde de sábado. Ligada ao jornalismo social do programa “Grande Reportagem”, esta moçambicana mobilizou o país com a reportagem: “Os meninos da Jamba” do qual nasceu um livro homónimo. De referir o impacto que este trabalho jornalístico causou na sociedade portuguesa, gerando uma onda solidariedade em favor destes meninos do sul de Angola. A sua vida, partilhada com todos os presentes, é um exemplo de como se pode canalizar a força e o poder da televisão para a sensibilização, solidariedade e o bem comum.
Logo de seguida, o Voluntário da Oikos e da Caritas, Bernardino Silva, também partilhou com todos os participantes o seu trabalho, enquanto voluntário na área da emergência, em vários países do mundo. A boa nova comunica-se assim: pelo o testemunho.
A noite de sábado foi dedicada ao filme “Shooting Dogs”, apresentado pelo P. João Torres. Tendo como cenário o genocídio do Rwanda, este filme apresenta-nos dois protagonistas europeus: um padre missionário e um professor cooperante; e atitudes que nos questionam e desafiam: até que ponto conseguimos dar a nossa vida por amor a Cristo e aos outros? A boa nova realiza-se assim: pela doação de nós mesmos.
No último dia, coube a D. António Couto, Bispo auxiliar de Braga, falar sobre o papel do leigo na Missão da Igreja. Começou por referir que é urgente uma mudança de mentalidade da Igreja portuguesa quanto à sua acção missionária: ela deve ter consciência de que todo cristão é evangelizador e missionário. Esta é a hora dos leigos, de novas linguagens e de os ministros ordenados se dedicarem à oração, ao estudo, à formação e ao acompanhamento.
Lembrando os documentos do Concílio e de vários episcopados europeus, D. António afirmou que, numa Europa descristianizada, é fundamental que a Igreja saia dos espaços litúrgicos e rituais e se dedique à evangelização que é o fundamento de tudo e deve ter o primado sobre tudo. Nada a pode substituir e nada se lhe pode antepor. Urge passar da morte para a vida e sendo a morte aquilo que impede de nascer, é prioritário tirar as pessoas do ódio, da violência, do crime, do egoísmo, do medo e da dor.
Referiu ainda que, por força do baptismo, aos leigos cabe esta missão: ir ao encontro do mundo, da ovelha desgarrada; e que a missão não é facultativa. Por isso, nos meios hostis em que vivemos, impõe-se-nos uma escolha: missão ou demissão.
Esta é a hora dos cristãos enamorados, apaixonados, não de amor romântico mas real: amor sem medida. O missionário e o cristão são a mesma realidade.
Este seminário de reflexão concluiu-se com a celebração eucarística, presidida por D. Couto, onde se realizou a cerimónia do envio de duas Leigas Boa Nova que, entretanto, já partiram para Moçambique: a Lina Rosa (médica), e a Amélia (enfermeira). Para além destas voluntárias partiram ainda a Clara Couto (pediatra) e a Marina Teixeira (psicóloga).